letters to autumn | #1

20.3.16

Faz-se outono.
Cenas passadas embaralham-se com o vento que sopra folhas que logo irão cair. 
Cair. 
Como eu, que fui de joelhos ao chão antes de vê-lo começar. Tão alto é estar ao alto, que descansar a cabeça sobre a madeira se torna alcançar o fundo do abismo. 

Elliott Smith canta uma das minhas canções favoritas em meio ao tumor emocional que se instalou. Robbin Williams repete constantemente em meus ouvidos que não há culpa a ser tomada por mim. A lição é difícil de ser aprendida, apesar de parecer tão fácil. 
Miss Misery se junta aos créditos finais. 
Uma. 
Duas vezes. 

O sol da tarde ilumina os prédios ao meu redor. Controlo a respiração, busco focalizar os raios de luz como o guia que eu havia lido me informou. Tudo mudou. Vejo a luz, mas por dentro é difícil encontrá-la. Preciso do conforto de 45 minutos com urgência antes que os comprimidos não façam mais efeito.

Faz-se outono e, por meros segundos, tudo parece um pouco mais promissor.

Até que uma dose de palavras cruéis traz de volta o gosto metálico à minha boca, arruinando-a por horas a fio... Tudo mudou, mas nada realmente mudou. Estou de volta aos 13 ou 14.
Na verdade, estou de volta à todas as vezes em que não consegui ser mais do que esperavam que eu fosse. É um padrão tão bem estabelecido que nem mesmo a indiferença é capaz de me proteger mais. 

Sou Will Hunting. 
Todos vêem o potencial. No entanto, as decisões que tomo estão sempre erradas.
Sou Will Hunting. 
Não há nada sobre mim que você queira realmente saber. 
Não há nada que eu possa um dia contar, ainda que tente por meio de palavras sinuosas que visam anular tudo o que realmente quero dizer. 

Faz-se outono. 
Cenas passadas embaralham-se com o vento que sopra folhas que logo irão cair.
Passo pelas ruas, livre, com um sweater cinza e um pequeno brinquedo em mãos. É 1997, ou assim eu desejo que fosse. O mundo ainda fazia sentido. O lugar que eu costumava ir já não existe mais, assim como as pessoas com quem eu costumava conviver. O vento sopra meus cabelos cortados rente aos ombros. Nada será igual. 


Faz-se outono e peço, mais uma vez, que os ventos levem consigo tudo o que me faz sofrer. 
E que deixem apenas o que for bom e verdadeiro, como faz às árvores. 

Faz-se outono...

***

Letters To Autumn é uma série de posts pessoais e/ou fictícios inspirados na temática do Outono e em todas as formas de arte que eu associo com a época, sejam elas filmes, músicas, livros, lugares, momentos ou memórias. A série é inspirada nos vídeos da vlogguer britânica Carrie Fletcher, você pode assistir os vídeos dela aqui :)

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4 comentários

  1. Seus textos sempre me encantam tanto! <3

    Acho que tudo isso é fruto da parte da vida onde 'crescemos': tudo muda, mas tudo fica igual de alguma forma e a gente tem que saber de tudo e tomar as decisões certas e parece que nunca acertamos... da pra refletir bastante nisso, né?

    Beijos mate
    A Mente Transborda
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    1. Sua linda <3
      Esse é um texto que eu escrevi pra desabafar, mas não queria que ninguém lesse se é que isso faz sentido hahaha, mas fico feliz quando vejo seus comentários aqui, refletindo comigo e me dando força <3

      Beijoo mate <3

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  2. Que texto lindo, estou sem palavras... ♥
    "Faz-se outono e peço, mais uma vez, que os ventos levem consigo tudo o que me faz sofrer. E que deixem apenas o que for bom e verdadeiro, como faz às árvores. "
    Torço para que a cada dia eu aprenda a ser outono. Ter a capacidade de retirar da minha vida tudo aquilo que não cabe mais para dar espaço ao novo. Beijoss

    www.quetransborde.com.br

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    1. Oiii Lavínia!
      Você não faz ideia como seu comentário me deixou feliz, sério mesmo <3 Sejamos todos mais outono, não é mesmo? :)

      Beijoos!

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